sábado, 8 de novembro de 2008

Falácias informais

Imagem retirada de forum.fanfiction.com.br


O objectivo de um argumento é expor as razões que suportam uma conclusão. Um argumento é falacioso quando as razões apresentadas não suportam a conclusão.
Em lógica, a falácia refere-se àquele argumento que é incorrecto, mas que pode convencer as pessoas.



Falso Dilema
Definição:
É dado um número limitado de opções (na maioria dos casos apenas duas), quando de fato há mais. O falso dilema é um uso ilegítimo do operador "ou". Por as questões ou opiniões em termos de "ou tudo ou nada" é uma forma corrente de gerar esta falácia.
Exemplos:
(i) Quem não está por mim, está contra mim..
(ii) Brasil: ame-o ou deixe-o.
(iii) Ou suportas seu marido ou separe-se.
(iv) Uma pessoa ou é boa ou é má.



Falácia da Ignorância (argumentum ad ignorantiam)
Definição:
Os argumentos com esta forma assumem que se pode concluir que algo é verdadeiro por não se ter provado que é falso. Da mesma forma, tal tipo de argumento pode concluir que algo é falso porque não se provou que é verdadeiro. (Isto é um caso especial do falso dilema, já que assume que todas as proposições têm de ser conhecidas como sendo verdadeiras ou falsas).
Exemplos:
(i) Os fantasmas existem! Já provou que não existem?
(ii) Como os cientistas não podem provar que a camada de ozono vai se destruir, isto provavelmente não ocorrerá.
(iii) Paulo disse que era mais esperto do que Marta, mas não o provou. Portanto, isso deve ser falso.


Derrapagem (Bola de Neve)
Definição:
Para mostrar que a proposição P é inaceitável, uma série de factos, cada vez mais inaceitáveis, é extraída de P. O argumento é falacioso quando pelo menos um dos seus passos é falso ou duvidoso. Mas a falsidade de uma ou mais premissas é ocultada pelos vários passos "se... então..." que constituem o todo do argumento.
Exemplo:
(i) Se aprovamos leis liberando o uso da droga, não demorará muito até aprovarmos leis liberando todas as drogas, e então começaremos a liberar os crimes em geral.
(iii) Se eu abrir uma excepção para você, terei de abrir excepções para todos.



Questão Complexa
Definição:
Dois tópicos sem relação, ou de relação duvidosa, são conjugados e tratados como sendo uma única proposição. Pretende-se que as pessoas aceitem ou rejeitem ambas quando, de fato, uma pode ser aceitável e a outra não. Trata-se de um uso abusivo do operador "e". As perguntas deste tipo pressupõem que já tenha sido dada uma resposta a uma pergunta anterior. Não se pode responder com “sim” ou “não”.
Exemplos:
(i) Você abandonou os seus maus hábitos?
(ii) Até quando vamos tolerar a interferência estrangeira nos interesses nacionais?
(iii) O que você fez com o dinheiro que roubou?


Falácia da Composição
Definição:
Como as partes de um todo têm uma certa propriedade, argumenta-se que o todo tem essa mesma propriedade. Esse todo pode ser tanto um objecto composto de diferentes partes, como uma colecção ou conjunto de membros individuais.
Exemplos:
(i) Cada tijolo tem três polegadas de altura, portanto a parede de tijolo tem três polegadas de altura.
(ii) As células não têm consciência. Portanto, o cérebro, que é feito de células, não tem consciência.



Falácia da Divisão
Definição:
Como o todo tem uma certa propriedade, argumenta-se que as partes têm essa propriedade. O todo em questão, pode ser tanto um objecto como uma colecção ou conjunto de membros individuais.
Exemplos:
(i) Como o cérebro tem consciência, cada célula do cérebro deve ter a consciência.
(ii) Uma vez que a classe do 2o. Ano de Publicidade e Propaganda é de excelente nível, Fulano, que é aluno dessa classe deve ser de excelente nível também...



Petição de Princípio (petitio principii)
Definição:
A verdade da conclusão é assumida pelas premissas. Muitas vezes, a conclusão é apenas reafirmada nas premissas de uma forma ligeiramente diferente. Nos casos mais difíceis, a premissa é consequência da conclusão.
Exemplos:
(i) Dado que não estou mentindo, segue-se que estou dizendo a verdade.
(ii) Sabemos que Deus existe, porque a Bíblia o diz. E o que a Bíblia diz deve ser verdadeiro, dado que foi escrita por Deus e Deus não mente. (Neste caso teríamos de concordar primeiro que Deus existe para aceitarmos que ele escreveu a Bíblia)



Apelo à Força (argumentum ad baculum)
Definição: O interlocutor é informado de que consequências desagradáveis se seguirão à discordância com o autor.
Exemplos:
(i) É melhor concordar que a nova orientação da empresa. Pelo menos se você pretende manter seu emprego.
(ii) Todos os membros do partido devem apoiar a candidatura de Fulano, ou enfrentar um processo de expulsão. Prova: Identifique a ameaça e a proposição. Argumente que a ameaça não tem relação com a verdade ou a falsidade da proposição.



Apelo à Piedade (argumentum ad misercordiam)
Definição: Pede-se a aprovação do auditório na base do estado lastimoso do autor. Exemplos:
(i) Não é possível ter tirado essa nota, pois eu passei as duas últimas noites estudando!
(ii) O presente custou caríssimo. Portanto, ele vai gostar...



Apelo às Consequências (argumentum ad consequentiam)
Definição: O autor, para “mostrar” que uma crença é falsa, aponta consequências desagradáveis que advirão da sua defesa. Exemplos:
(i) Não se pode aceitar que a teoria da evolução é verdadeira, porque se ela fosse verdadeira não seriamos melhores que os macacos. (ii) Deve acreditar em Deus, porque de outro modo a vida não teria sentido. (Talvez. Mas também é possível dizer que, não havendo sentido para a vida, Deus não existiria.) Prova: Identifique as consequências e argumente que a realidade não tem de se adaptar aos nossos desejos.



Apelo ao Povo (argumentum ad populum)
Definição: Sustenta-se que uma proposição é verdadeira por ser largamente defendida como tal por algum sector da população. Esta falácia é, por vezes, chamada "Apelo à emoção" porque os apelos emocionais atingem, muitas vezes, a população como um todo.
Exemplos:
(i) Desde que o mundo é mundo as coisas são feitas dessa forma. Por que você insiste em pensar diferente?
(ii) As pesquisas sugerem que o partido XYZ vai ganhar as eleições; portanto, você também deve votar nele.
(iii) Todo mundo sabe que a Terra é plana. Então porque insistes nas tuas excêntricas teorias? (Papa falando à Ptolomeu)



Ataque à Pessoa (argumentum ad hominem)
Definição: A pessoa que apresentou um argumento é atacada em vez do próprio argumento. Assume muitas formas. Pode-se, por exemplo, atacar o carácter, a nacionalidade ou a religião da pessoa. Em alternativa, pode-se sugerir que a pessoa é movida pelo interesse porque tem algo tem algo a ganhar com o argumento. A pessoa pode ainda ser atacada por associação ou pelas suas companhias.
Há três formas maiores de Ataque à Pessoa: (1) ad hominem (abusivo): em vez de atacar a asserção, o argumento ataca pessoa que a proferiu. (2) ad hominem (circunstancial): em vez de atacar a asserção, o autor aponta uma relação entre a pessoa pessoa que a fez e as suas circunstâncias. (3) ad hominem (tu quoque): esta forma de ataque à pessoa consiste em fazer notar que a pessoa não pratica o que diz.

Exemplos:
(i) Não discuto com pessoas da sua categoria (ad hominem abusivo)
(ii) É natural que o ministro diga que essa política fiscal é boa porque ele não será atingido por ela.(ad hominem circunstancial)
(iii) Podemos ignorar as afirmações de João porque ele é patrocinado pela indústria da madeira. (ad hominem circunstancial)
(iv) Como você pode pedir-me para parar de fumar se vejo você fumando todos os dias? (ad hominem tu quoque)



Apelo à Autoridade (argumentum ad verecundiam)
Definição: Ainda que às vezes seja apropriado citar uma autoridade para suportar uma opinião, a maioria das vezes não o é. O apelo à autoridade é especialmente impróprio se: (i) a pessoa não está qualificada para ter uma opinião de perito no assunto. (ii) não há acordo entre os peritos do campo em questão. (iii) a autoridade não pode, por algum motivo ser levada a sério - porque estava brincando, estava ébrio ou por qualquer outro motivo.
Uma variante da falácia do apelo à autoridade é o "ouvi dizer" ou "diz-se que". Um argumento por "ouvir dizer" é um argumento que depende de fontes em segunda ou terceira mão.

Exemplos:
(i) O famoso psicólogo Dr. Fabio Appolinário recomenda-lhe que compre o último modelo de carro da Ford. (ii) O economista John Kenneth Galbraith defende que uma apertada política económica é a melhor saída para a recessão. (Apesar de Galbraith ser um perito, nem todos os economistas estão de acordo nesta questão.) (iii) Dizem que as acções da Bolsa vão continuar a cair até o final do ano. (Ouvi dizer que...) Prova: Mostre uma de duas coisas (ou ambas): (i) a pessoa citada não é uma autoridade no campo em questão; (ii) mesmo entre os especialistas não há consenso sobre o assunto discutido.





Depois disso, por causa disso (post hoc ergo propter hoc )
Definição: O nome em Latim significa: "depois disso, logo, por causa disso". Isto descreve a falácia. Um autor comete a falácia quando assume que, por uma coisa se seguir a outra, então aquela teve de ser causada por esta.
Exemplos:
A imigração nordestia para o sul/sudeste aumentou assim que a prosperidade aumentou. Portanto o incremento da imigração foi causado pelo incremento da prosperidade.
Tomei o Chá Cura-Tudo e dois dias depois a minha dor no peito desapareceu...



Adaptado de www.fecap.br

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