quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Indução

"O critério de demarcação inerente à lógica indutiva - isto é, o dogma positivista do significado do sentido - equivale a exigir que todos os enunciados da ciência empírica (ou todos os enunciados com sentido) sejam susceptíveis de uma decisão definitiva com respeito à sua verdade e à sua falsidade, podemos dizer que têm de ser " decidíveis" de modo concludente. Isto quer dizer que têm de ter uma forma tal que seja logicamente possível tanto verificá-los como falsificá-los. Assim disse Schlick: (...) Um autêntico enunciado tem que ser susceptível de verificação concludente; e Waismann escreve ainda com maior claridade: Se não é possível determinar se um enunciado é verdadeiro, então carece inteiramente de sentido: pois o sentido possível de um enunciado é o método da sua verificação.
Ora bem, na minha opinião, não existe nada que possa chamar-se indução. Portanto, será logicamente inadmissível a inferência de teorias a partir de enunciados singulares que estão verificados pela experiência (o que quer que seja que isto queira dizer). Assim, pois as teorias não são verificáveis empiricamente.
Se queremos evitar o erro positivista que o nosso critério de demarcação elimina dos sistemas teóricos da ciência, devemos eleger um critério que nos permita admitir no domínio da ciência empírica inclusive enunciados que não podem verificar-se.
Mas, certamente só admitirei um sistema entre os científicos ou empíricos se é susceptível de ser contrastado pela experiência. Estas considerações sugerem- nos que o critério de demarcação que temos de adoptar não é o da verificabilidade, mas o da falsicabilidade dos sistemas. Dito de outro modo: não exigirei que um sistema científico possa ser seleccionado, de uma vez para sempre, num sentido positivo; mas sim que seja susceptível de selecção num sentido negativo por meio de contrastes ou provas empíricas: há- de ser possível refutar pela experiência um sistema científico empírico."
Karl Popper, A Responsabilidade do Cientista e outros Escritos, Publicações D. Quixote.

1. Como podemos segundo o texto "evitar o erro positivista"?
2. Quais é segundo o texto a eficácia do critério da verificabilidade?

Exercício II

"Hume, para falar uma linguagem que não era a sua, demonstrou que contrariamente às inferências demonstrativas (que se baseiam nas regras da lógica dedutiva) as inferências não demonstrativas (ou indutivas), nomeadamente aquelas cujas premissas descrevem estados de coisas observadas e a conclusão um estado de coisas inobservado, não preservam a verdade das suas premissas: se as premissas de uma inferência indutiva são verdadeiras, a conclusão não é automaticamente verdadeira.
Do facto de todos os corvos observados serem negros, não se segue que todos os corvos observados e inobservados sejam negros. Por outras palavras, a indução não tem justificação lógica. Esta conclusão é o ponto de partida da moderna filosofia das ciências. Desta primeira conclusão, Hume tirou uma segunda: a saber, que as nossas crenças baseadas sobre inferências não demonstrativas são irracionais ou insensatas. Esta segunda tese não pode ser deduzida da primeira a não ser que se adopte uma premissa suplementar que podemos qualificar de «dedutivista», segundo a qual qualquer inferência não demonstrativa e irracional ou insensata.
Karl Popper é, entre os filósofos contemporâneos, o principal partidário da segunda conclusão de Hume e portanto da premissa dedutivista. Segundo ele, nós raciocinamos sempre de maneira dedutiva, nunca de maneira indutiva. A partir de uma hipótese tendo a forma de enunciado tendo a forma de um enunciado universalmente quantificado (por exemplo, «Todos os corvos são negros».), pode – se predizer – se que o próximo corvo que observamos será negro. Se ele for amarelo – limão, então pode inferir – se (…), que a nossa hipótese foi refutada, na condição de não estipular que o volátil amarelo limão não poderia, em virtude da sua cor, ser um corvo. Daí conclui que, se temo razões para considerar uma teoria como falsa – basta para isso que ela tenha sido refutada - , em contrapartida, não temos nenhuma razão para considerar uma teoria como verdadeira, por muito abundantes que tenham sido as afirmações experimentais que ela recebeu. A metodologia negativa de Popper, pela sua insistência unilateral sobre a refutabilidade das teorias científicas, opõe – se ao positivismo lógico.
(...) A rejeição popperiana da indução tem, quanto a mim, os defeitos de premissa dedutivista. (…) Do facto de que as inferências indutivas são falíveis não concluirei nem que é preciso renunciar à indução, nem que nós não dispomos de nenhuma razão para afirmar a verdade de teorias claramente confirmadas."
P. Jacob, in A Filosofia das Ciências Hoje, Edições Fragmentos.

1. Explicite a tese fundamental defendida pelo autor.
2. Discuta, partindo do texto a importância da indução e da dedução para a formulação da verdade científica.

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