sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Descartes



"Esta dúvida radical é a cruz do método cartesiano. Como mostram a segunda e quarta regras, o seu método é analítico: procede pela divisão das coisas e dos pensamentos. E o instrumento de que serve para os dividir é fornecido pela primeira regra: "nada aceitar como verdadeiro" até o espírito, passo a passo, alcançar os elementos divididos, esses fundamentos "dos quais não tenha motivos para duvidar".

O cerne do pensamento cartesiano é expresso numa frase que ele usou frequentemente, (…) devemos duvidar de tudo. Pode parecer um conselho bastante cínico da parte de um homem religioso; e, com efeito não o tornou popular aos olhos dos homens religiosos. Quando Descartes usou o método da dúvida, chegou a uma posição religiosa, de algum modo paradoxalmente. Mas o seu objectivo ao usar o método foi sempre claro. Contrariamente a Michel Montaigne e outros cépticos contra quem escreveu, Descartes não estava interessado na atitude então na moda de duvidar pela própria dúvida. O seu fito, era, por meio da dúvida, descer até ao que pode ser encarado como certeza. Este era procedimento científico essencialmente usado pelos físicos seiscentistas, para os quais a dúvida representava um papel constante: "não aceitar nada como verdadeiro" até estar estabelecido, tanto quanto possível para lá de qualquer dúvida. (…)
Se se duvidar de tudo, que é que permanece por detrás da dúvida? Apenas o facto de duvidar. Isto pode parecer um expediente filosófico: mas, no fundo, está, por certo correcto. Não se pode duvidar sem estar a duvidar, isto é, sem ser mais do que o feixe de impressões sensíveis de que está a duvidar. Porque se se duvida, não se aceitam as impressões dos sentidos tal como se recebem; o universo não é já algo exterior imprimindo em nós impessoalmente as suas marcas. A relação ao universo torna-se pessoal; pelo processo da dúvida, exploramo-lo e reconstruímo-lo. E exploramo-nos a nós próprios, provamo-nos e fazemo-nos. Só o eu resiste à dúvida e a dúvida cria o eu.

É este pensamento que Descartes formulou numa das frases mais famosas da filosofia: (…) Penso logo existo." J. Bronowski, Bruce Mazlish, A Tradição Intelectual do Ocidente, Edições 70.

1. Explicite o significado da seguinte afirmação: " esta dúvida radical é a cruz do método cartesiano."


2. Torne evidente, fundamentando, o alcance filosófico da dúvida elaborada por Descartes.


Retirado do site Netprof.

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