quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O racionalismo


"A posição epistemológica que vê no pensamento, na razão, a fonte principal do conhecimento humano, chama-se racionalismo (de ratio = razão). Segundo ele, um conhecimento só merece na realidade este nome quando é logicamente necessário e universalmente válido. Quando a nossa razão julga que uma coisa tem que ser assim e que não pode ser de outro modo, que tem de ser assim, portanto, sempre e em todas as partes, então, e só então, nos encontramos ante um verdadeiro conhecimento, na opinião do racionalismo. Um conhecimento desse tipo apresenta-se-nos, por exemplo, quando formulamos o juízo "o todo é maior do que a parte", ou o juízo "todos os corpos são extensos". Em ambos os casos vemos com evidência que tem de ser assim e que a razão se contradizia a si mesma se quisesse sustentar o contrário. E porque tem de ser assim, é também sempre e em todas as partes assim. Estes juízos possuem, pois, uma necessidade lógica e uma validade universal rigorosa.
Pelo contrário, sucede uma coisa muito diferente com o juízo "todos os corpos são pesados", ou no juízo "a água ferve a 100 graus". Neste caso só podemos ajuizar que é assim, mas não que tem de ser assim. É perfeitamente concebível que a água ferva a uma temperatura inferior ou superior; e também não significa uma contradição interna representar-se um corpo que não possua peso, pois a nota do peso não está contida no conceito do corpo. Estes juízos não têm, pois, necessidade lógica. E mesmo assim falta-lhes a rigorosa validade universal. Podemos julgar unicamente que a água ferve a 100 graus e que os corpos são pesados, até onde podemos comprová-lo. Estes juízos só são válidos, pois, dentro de limites determinados. A razão disto é que, nestes juízos, encontramo-nos limitados à experiência. Isto não acontece nos juízos primeiramente citados. Formulamos o juízo "todos os corpos são extensos" representando o conceito de corpo e descobrindo nele a nota da extensão. Este juízo não se funda, pois, em qualquer experiência mas sim no pensamento. Daqui resulta, portanto, que os juízos fundados no pensamento, os juízos que procedem da razão, possuem necessidade lógica e validade universal; os outros, pelo contrário, não a possuem. Todo o verdadeiro conhecimento se funda deste modo – assim conclui o racionalismo –, no pensamento. Este é, por conseguinte, a verdadeira fonte e base do conhecimento humano.
Uma forma determinada do conhecimento serviu evidentemente de modelo à interpretação racionalista do conhecimento. Não é difícil dizer qual é: é o conhecimento matemático. Este é, com efeito, um conhecimento predominantemente conceptual e dedutivo. Na geometria, por exemplo, todos os conhecimentos derivam de alguns conceitos e axiomas supremos. O pensamento impera com absoluta independência de toda a experiência, seguindo somente as suas próprias leis. Todos os juízos que formula, distinguem-se, além disso, pelas características da necessidade lógica e da validade universal. Pois bem; quando se interpreta e concebe todo o conhecimento humano em relação a esta forma de conhecimento, chega-se ao racionalismo."
J. Hessen, Teoria do Conhecimento, Almedina

1. O texto de J. Hessen torna evidente as principais características do racionalismo. Seleccione do mesmo, cinco adjectivos que tornem evidente a especificidade desta corrente filosófica.
2. Produza um pequeno texto onde evidencie a cumplicidade entre o racionalismo e o pensamento matemático e geométrico.
(Retirado do site Netprof)

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