«A elaboração de “ construções cientificas” implica ruptura com as construções do conhecimento vulgar” ’ (do senso comum, da ideologia).Na verdade, se a ruptura comas “ categorias “ , “ evidências” “ explicações “ vulgares não ocorre, não é de todo possível “ abrir espaço” para novas “construções”. Todo o conhecimento, mesmo o vulgar, é construído para responder a determinadas interrogações, a determinados problemas - e transporta, por isso, em si mesmo, implicitamente, as interrogações, os problemas para responder aos quais foi construído. Assim “ o conhecimento vulgar “ enquanto não é recusado como traduzindo directa e fielmente a realidade, continua impor ao pensamento não só as suas categorias explícitas, como também as interrogações escondidas, os problemas implícitos que estão na sua origem. Ora, os problemas, as interrogações, as necessidades de resposta a que o “conhecimento vulgar” ( de senso comum ou ideológico) responde e corresponde não são como vimos, as do conhecimento propriamente dito, mas os do “ reconhecimento “ e da “ prática social”. Não se trata, por conseguinte, de simplesmente pôr em dúvida, para construir a ciência, o que o senso comum ou a ideologia explicitamente afirmam como “evidente”; não se trata de ir verificar por métodos científicos, se as descrições / interpretações que o “conhecimento vulgar” nos oferece do social são correctas ou incorrectas, cientificamente ou não. A ruptura opera-se, fundamentalmente a outro nível – e sem de resto forçosamente se propor substituir as “ construções “ do “ conhecimento vulgar” por outras “ construções” no plano das práticas quotidianas, onde aquelas possam continuar a ser “ úteis” . Quando efectivamente se opera, é ao nível das perguntas – não ao das respostas, das descrições / interpretações – que centralmente se situa. Opera-se, portanto, enunciando novas interrogações, instaurando novas problemáticas, através das quais o que precisamente fica posto e causa é a forma como, nas operações produtoras do “ conhecimento vulgar” o real é interrogado. (…) O que de facto de começa por subverter, para a ciência de construir são as perguntas e não as respostas do senso comum ou da ideologia.» A. Sedas Nunes, Sobre o problema do conhecimento nas ciências sociais; Cadernos GIS; Lisboa.
1. Tendo em conta a expressão “ Na verdade, se a ruptura com as “ categorias “, “ evidências ” e explicações vulgares, não é de todo possível abrir espaço para novas “ explicações”, explique o motivo pelo qual o conhecimento vulgar constitui um obstáculo à evolução da ciência.
2. Partindo do texto, explicite a importância de uma ruptura epistemológica na construção do conhecimento científico.
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