sexta-feira, 6 de março de 2009

Estatuto do conhecimento científico


TEXTO

Acredito que a teoria pelo menos alguma teoria ou expectativa rudimentar sempre vem primeiro; que ela sempre precede a observação; e que o papel fundamental das observações e dos testes experimentais é mostrar que algumas das nossas teorias são falsas e, assim, estimular-nos a produzir outras melhores. Consequentemente, afirmo que não partimos de observações, mas sempre de problemas de problemas práticos ou de uma teoria que caiu em dificuldades. Uma vez que defrontemos um problema, podemos começar a trabalhar nele. Podemos fazê-lo por meio de tentativas de duas espécies: podemos prosseguir tentando primeiro supor ou conjecturar uma solução para o nosso problema; e podemos depois tentar criticar a nossa suposição, habitualmente fraca. Às vezes, uma suposição ou uma conjectura podem suportar por certo tempo a nossa crítica e os nossos testes experimentais. Mas, via de regra, logo descobrimos que as nossas conjecturas podem ser refutadas, ou que não resolvem o nosso problema, ou que só o solucionam em parte; e verificamos que mesmo as melhores soluções aquelas capazes de resistir à crítica mais severa das mentes mais brilhantes e engenhosas logo dão origem a novas dificuldades, a novos problemas. Assim podemos dizer que o crescimento do conhecimento avança de velhos problemas para novos problemas, por meio de conjecturas e refutações. Karl Popper, Conhecimento Objectivo



1. Qual é a importância que se deve atribuir às teorias?

2. Diga em que consiste o papel das observações.

3. Refira qual a importância desempenhada pelo problema na investigação científica.



TEXTO

(...) a tentativa de tornar a ciência mais "racional" e mais precisa corre, como já vimos, o risco de a anular. A diferença entre a ciência e a metodologia, facto mais do que evidente ao longo da história, indica uma fraqueza da última, e talvez também das "leis da razão". Porque aquilo que surge como "desleixo", "caos" ou oportunismo quando referido a essas leis desempenha uma função da máxima importância no desenvolvimento dessas mesmas teorias que consideramos partes essenciais do nosso conhecimento da natureza. Esses "desvios, esses"erros", são pré-condições do progresso. Permitem ao conhecimento sobreviver no mundo complexo e difícil que habitamos, permite-nos continuarmos a ser agentes livres e felizes. Sem "caos" não há conhecimento. Sem que a razão seja repetidamente desautorizada não há progresso. As ideias que hoje formam a base da ciência só existem porque existiram no passado certas coisas como o preconceito, a imaginação, a paixão; porque essas coisas se opuseram à razão; e porque tiveram a possibilidade de seguir o seu caminho. Devemos por isso concluir que mesmo no interior da ciência a razão não pode nem deve ser autorizada a incluir tudo, tendo que ser frequentemente desrespeitada, ou eliminada, em benefício de outras instâncias. Não há uma única regra que permaneça válida em todas as circunstâncias nem qualquer instância para a qual possamos apelar a todo o momento. Paul Feyerabend, Contra o Método



1. Será um conhecimento científico um empreendimento inteiramente racional?

2. Quais os requisitos necessários para se possa falar em progresso no domínio científico?



TEXTO

O que eu achava mais impressionante e mais perigoso em certas teorias era a pretensão de elas serem 'verificadas' ou 'confirmadas' por um fluxo incessante de provas observacionais. E, na verdade, assim que se abriam os olhos, podia ver-se por toda a parte casos que constituíam verificações dessas teorias. Um marxista não era capaz de olhar para um jornal sem encontrar em todas as páginas, desde os artigos de fundo até aos anúncios, provas que constituíam verificações da luta de classes; e encontrá-las-ia sempre também (e em especial) naquilo que o jornal não dizia. E um psicanalista diria sem dúvida que todos os dias, ou até de hora a hora, estava a ver as suas teorias a serem verificadas por observações clínicas. Mas seriam essas teorias testáveis? Estariam realmente essas análises mais bem testadas do que, digamos, os horóscopos, frequentemente 'verificados' dos astrólogos? Que acontecimento, que se poderia conceber que, aos olhos dos seus aderentes, as falsificasse? Não eram todos os acontecimentos imagináveis 'verificações'? Era precisamente esse facto o facto de que essas análises batiam sempre certo, de que eram sempre verificadas que impressionava os seus aderentes. Comecei a pensar que essa aparente força era, na verdade, uma fraqueza e que todas essas 'verificações' eram demasiadamente pouco válidas para serem tomadas por argumentos. O método de procurar verificações parecia-me pouco válido parecia-me, na verdade, ser o método típico de uma pseudociência. Apercebi-me da necessidade de se distinguir, tão claramente quanto possível, este método de um outro método o método de testar uma teoria tão severamente quanto se for capaz , isto é, o método da crítica, o método de procurar casos que constituam falsificação. O método de procurar verificações não era apenas acrítico: promovia também uma atitude acrítica quer em quem expunha quer em quem lia. Ameaçava, assim, destruir a atitude da racionalidade, da argumentação crítica. Karl Popper, O Realismo e o Objectivo da Ciência



1. Deve uma teoria ser considerada científica pelo facto de ser regularmente verificada através de provas observacionais?

2. Como podemos demarcar uma teoria cientifica de uma teoria pseudocientífica?

3. Explique porque motivo o método de procura de verificações não é o mais conveniente para a ciência.

Retirado da site Netprof.

Sem comentários: