sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

As substâncias cartesianas e as suas relações



Descartes admite existirem três substâncias , a que atribui as designações de "res cogitans", "res divina" e "res extensa".

"Res cogitans" - Descartes apreende por intuição a certeza do "cogito, ergo sum", isto é, do "penso, logo existo". Descartes sabe que existe, mas interroga-se no sentido se saber que coisa é. Dado que a evidência de que existe lhe é garantida pelo acto de duvidar e de pensar, ele considera ser apenas uma substância que pensa, um pensamento. O filósofo num dado momento afirma que "eu sou uma substância cuja essência ou natureza é o pensamento!"Ao retirar a verdade da sua existência do acto de pensar, tal não significa que se considere existir como homem formado de corpo e de alma. Não tendo ainda nada que lhe garanta a existência do corpo, Descartes define-se essencialmente como uma substância pensante, um pensamento, uma razão, uma alma, ou um espírito. É isto apenas que ele intui, não sabendo ainda se possui um corpo, se há um mundo ou qualquer lugar onde eventualmente possa existir. Existe apenas como "res cogitans", independentemente do corpo, não necessitando de algo material para se afirmar, mas impondo-se evidentemente pelo puro acto de pelo puro acto de pensar. O "res cogitans" é pensar. É no acto de pensar que a alma se funda, é no acto de pensar que o existir se ancora, e ele durará todo o tempo em que Descartes puder dizer: "eu penso".

"Res divina" - A segunda substância que Descartes fundamenta metafisicamente é Deus; temos, no entanto, uma intuição clara das suas perfeições pelo que convém que nos detenhamos nalguns dos atributos que caracterizam esta substância. Descartes afirma que entende "(...) nome de Deus uma substância infinita, eterna , imutável, independente, omnisciente, omnipotente( ...)." Descartes tem ,assim, um conceito de Deus muito semelhante ao da teodiceia clássica. Deus é visto como uma substância, a única no sentido propriamente dito, porque é a única que subsiste por si mesma. Todas as outras dependem de Deus que as criou e as mantém. Deus é independente, no sentido de ser a causa de si mesmo. Em Deus há como que uma identificação de causa e efeito em todo o sempre, pelo que se concebe como um ser em autogeneração. Deus é veraz, é com base na veracidade divina que há a garantia do conhecimento humano. Se Deus é o autor da nossa faculdade de distinguir o verdadeiro do falso e se nós a usarmos bem, não podemos de modo algum, cair no erro, pois isso seria atribuir o erro à própria identidade divina. Ora, como Deus é perfeito, tem de ser simultaneamente bom e verdadeiro e constitui-se como princípio e garante das nossas evidências. O homem não poderá ter ciência certa se não conhecer aquele que o criou, isto é, Deus. Deus é a entidade criadora. Descartes vê na substância divina um ser omnipotente, criador não só do homem, mas de tudo aquilo que existe. Ressalta, assim, a ideia de Deus como autor não só das coisas existentes no mundo como até das verdades metafísicas, matemáticas e morais.

"Res extensa"- No entanto, ele continua a interrogar-se no sentido de averiguar se não poderão existir outras coisas para além de si e de Deus. Descartes averiguando as ideias descobre uma outra ideia, e só uma que se lhe impõe com igual evidência. Trata-se da ideia de extensão. Que esta ideia existe é um facto, mas existirá algo que lhe corresponda fora do pensamento? Mais uma vez, Deus é invocado como garantia da evidência, pois se possuímos a ideia clara e distinta de extensão, ela terá de corresponder a uma extensão real na natureza com a qual se parece. Desta forma, a extensão é a propriedade fundamental da matéria. Todos os corpos materiais e o próprio espaço se reduzem à extensão. Por isso, a extensão é a característica essencial dos corpos. Qualquer corpo consiste unicamente numa substância extensa em comprimento, largura e profundidade.

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